Nos próximos anos, a Geração Z, nascida entre 1996 e 2012, vai dominar boa parte da força de trabalho no Brasil e no mundo. E, junto com ela, está chegando uma nova lógica nas relações entre pessoas e empresas. Mais do que “atrair e manter talentos”, o que está em jogo agora é uma mudança profunda na forma como o trabalho é encarado, tanto por quem entra no mercado quanto por quem lidera as organizações.
No entanto, muita empresa ainda tenta decifrar a Geração Z com as mesmas lentes de 10 anos atrás. O resultado? Falta de engajamento, dificuldade de manter pessoas por mais de um ano, e uma frustração generalizada de ambos os lados.
Portanto, o que está acontecendo aqui não é frescura. É uma mudança geracional real, com novas expectativas, prioridades e limites.
O que realmente importa para a Geração Z?
Se fôssemos resumir, o que a Geração Z busca no trabalho é coerência. Entre o que a empresa fala e o que ela faz. A cultura vendida no processo seletivo e o clima vivido no dia a dia. Entre o propósito estampado no LinkedIn e as decisões tomadas na reunião de orçamento.
Além disso, essa geração quer se desenvolver — mas não a qualquer custo. Quer ser desafiada, sim, mas dentro de um ambiente seguro. Quer estabilidade, é claro, mas não aceita ambientes tóxicos. O trabalho ainda é importante, contudo, ele não é mais o centro da vida.
Ou seja, isso não significa que sejam “inconstantes” ou “difíceis”. Significa que elas cresceram vendo as gerações anteriores adoecendo no trabalho, e escolheram fazer diferente.
Um novo tipo de engajamento
Não dá pra engajar a Geração Z com discurso pronto, nem com cargos de liderança como recompensa por “vestir a camisa”. Em vez disso, eles querem feedback de verdade, autonomia real e espaço para sugerir, testar e errar.
Ainda assim, preferem um gestor que reconhece suas vulnerabilidades a um chefe que finge perfeição. E isso muda tudo.
O modelo tradicional de liderança — baseado em comando e controle — simplesmente não funciona mais. Essa geração responde a outro tipo de gestão: mais horizontal, mais transparente, mais humana.
Por essa razão, empresas que oferecem esse ambiente estão, aos poucos, se tornando referência entre os jovens. E não estamos falando apenas de empresas gigantes. Startups, negócios locais, organizações sociais… o diferencial não está no tamanho, mas sim na qualidade da cultura.
Um ponto de atenção: saúde mental
Agora, um parêntese importante: essa geração está conectada o tempo todo. E exausta o tempo todo também.
A pressão para performar, aprender rápido, entregar mais, se posicionar nas redes e ainda parecer feliz o tempo inteiro tem um custo. Os dados mostram que a Geração Z é a que mais sofre com burnout, ansiedade e crises de identidade profissional.
Portanto, muitas lideranças ainda não entenderam que não adianta falar de saúde mental só no Setembro Amarelo. Não adianta oferecer “meditação no app” e manter metas inalcançáveis. É preciso repensar a estrutura do trabalho: carga horária, prazos, gestão, comunicação. Tudo isso impacta diretamente o bem-estar das pessoas.
Como as empresas podem se adaptar?
Esse movimento não exige revolução da noite pro dia. No entanto, exige intenção. E consistência. A seguir, listamos quatro caminhos possíveis:
1. Repensar o EVP (Proposta de Valor ao Colaborador)
Se sua empresa oferece um bom salário, ótimo. Mas isso é apenas o ponto de partida. O que mais você está entregando? Desenvolvimento de verdade? Escuta ativa? Ambiente seguro? Flexibilidade real? Esse pacote precisa estar claro — e, acima de tudo, ser vivido no dia a dia.
2. Transformar o jeito de aprender nas empresas
Cursos obrigatórios e plataformas engessadas não funcionam mais. A Geração Z quer aprender de forma personalizada, prática e contínua. Por isso, investir em trilhas de aprendizagem e experiências reais de desenvolvimento é essencial para manter essas pessoas engajadas.
3. Colocar diversidade em prática, não só no discurso
Essa geração observa tudo. Se a empresa diz que valoriza inclusão, mas todas as lideranças são iguais, há um problema. Diversidade sem representatividade e poder de decisão não sustenta cultura.
4. Comunicar com verdade, dentro e fora da empresa
A Geração Z pesquisa antes de se candidatar. Olha os posts no Instagram, os depoimentos no Glassdoor, as notícias no Google. Sendo assim, se a comunicação não for autêntica, ela vai perceber. Transparência, coerência e vulnerabilidade são as novas bases da reputação corporativa.
Pra fechar
A Geração Z não está “difícil”. Ela só está propondo uma nova forma de se relacionar com o trabalho, talvez mais saudável, mais honesta, mais coerente. E isso, no fim das contas, é bom pra todo mundo.
Em resumo, as empresas que entenderem isso não só vão atrair e manter talentos, como também vão construir culturas mais inovadoras, humanas e preparadas para o que vem pela frente.